28 de abr. de 2017

Que seja inverno então, oras


Lembro de olhar para ela e ouvir sobre o futuro. O café da manhã marcado para o feriado. O cinema para o final de semana. A noite só de danças para depois das provas. Mas também lembro de olhar para ela e ouvir sobre o futuro, mas em um tom que esmaecia. 

Lembro de olhar para ela e ouvir sobre o futuro, mas sem enxergá-lo. 

Não porque ele não era feito de bons planos, mas porque não havia mais a vontade pulsante, que roseava as minhas bochechas e tremulava minhas mãos, de realizá-los. 

Ainda que doa admitir, não são mais dias ensolarados e, para a minha surpresa, não pude contemplar as folhas caindo gradativamente antes de sentir o vento gelado solidificando cada fresta que havia em mim. 

Talvez o próximo sol seja desejado para então tudo derreter. 

Mas talvez, sem perceber, o verdadeiro desejo se torna o gelo sólido o suficiente, para que não seja despedaçado na primeira martelada. 

Não porque há gosto pela frieza, mas porque a mudança de estações repentinamente é intensamente desgastante.

Alice Arnoldi

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