Fotografia e edição: Alice Arnoldi
Era uma rua escura, com as luzes do poste piscando freneticamente, e meus passos acelerados com o passar dos minutos, mas, de repente, uma mulher apareceu, ela suspirou de alívio e eu sorri. Ainda era um lugar assustador, mas enxergar outro pessoa, estagnada dentro das mesmas sensações que eu sentia percorrendo cada extremidade do meu corpo, mas aliviada por haver alguém ali, fez com que eu pudesse andar mais devagar, e sentir algo além do quão perdida eu estava.
Quando conversei com outras pessoas diagnosticadas com crises de ansiedade, seguidas de depressão, foram nesses exatos sentimentos que meu coração ficou submerso. Elas foram como pequenos faroletes de luz em meio à escuridão causada pelas doenças psicológicas.
Quando perguntei à Cecília Malavolta, de 18 anos, o que a ansiedade significava na vida dela, ela respondeu algo que talvez eu nunca vá esquecer: "ter ansiedade é não saber se eu ainda vou querer estar viva no próximo momento. Eu moro em um prédio e quase sempre me pego pensando em me atirar pelas janelas quando tenho crises de ansiedade.". Ler palavras densas como essas, de uma garota doce, que acabou de começar a cursar o seu sonho - Jornalismo -, faz com que eu entenda que não está tudo bem não falarmos sobre depressão e crises de ansiedade. Não está tudo bem rirmos de pessoas que dizem estarem nervosa com algo, ao ponto de ficarem estáticas. Não está tudo bem julgarmos em vez de apoiarmos.
Gritar sobre transtornos psicológicos é necessário e muito, principalmente para que garotas e garotos não sintam que estão errados em sentirem a tristeza enrustida em cada entranha de seus corpos.
"Como que eu vou explicar para alguém que eu tenho falta de ar, de repente? Que parece que tudo o que eu estou vivendo não é real? Que as pessoas, ao meu redor, são falsas? Que eu vivo em um universo paralelo? Eu me achava louca antes de contar isso para alguém. Então, eu passei 15 anos dessa maneira [...]". Então nós não vamos falar sobre, mas as pessoas continuarão vivendo o que a Paola Churchill, de 19 anos, também estudante de Jornalismo, viveu por anos da sua vida? Não está tudo bem alguém passar intensos momentos questionando sua sanidade mental. Não está tudo bem não conseguir emitir um som sequer através dos nossos lábios, enquanto há tanto a ser dito.
A verdade é que os nossos gritos são, em sua maioria, silenciados; não porque a dor não é como uma espada, bem afiada, cortante de lado a lado, mas porque o medo é um bom professor em nos mandar ficar quietos. Só que a maré começa a subir, ela está nos joelhos... Na cintura... Nos ombros... Até que cobriu completamente a nossa cabeça. "Às vezes, eu sinto que eu sou uma bomba que falta um pouco para explodir e então, quando eu explodo, dá nisso (crise de ansiedade).", foi a frase, entre tantas outras doloridas, que a Emily Nery, de 17 anos, estudante de Jornalismo, que resumiu o cotidiano de uma pessoa ansiosa. As nossas crises não acontecem do dia para a noite. As lutas são constantes, até que um dia, você não consegue posicionar os soldados perfeitamente e algumas brechas são abertas. E então: Olá, falta de ar. Olá, batimentos cardíacos acelerado. Olá, angústia. Olá, dores no peito. E tantos outros "olá" que gostaríamos de nunca dizer.
Alice Arnoldi
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