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23 de set. de 2017

Gostaria de dar a você todos os troféus


Por que você não senta para nós conversarmos? Você prefere de pé? Tudo bem por mim também. Às vezes algumas situações são mais fáceis, ou melhor, um pouco menos difíceis de digerir quando nossos pés tocam ao chão, nos lembrando que somos reais. 

Você entende o que quero dizer, não é? As subidas e descidas dos nossos pensamentos, sem nos deixar andar de mãos dadas com a constância, fazem com que, ao olharmos para dentro dos nossos próprios olhos, nos questionemos se, finalmente,  a loucura nos dominou de corpo e alma. 

Sentir as forças se esvaindo, como água que dança no corpo da cabeça aos pés, sem parar até chegar ao fundo do poço, é um lembrete de que os dias estão distantes de ser aquilo que esperávamos que fossem. Então, mamãe, feche a janela, por favor. O entrar do sol não mudará nada por aqui. 

Os braços pesados, que não aguentam o peso do garfo para ser levado aos lábios e os pés que não respondem ao pensarmos em dar pequenos e leves passos em direção ao banheiro estalam o nosso consciente lembrando que, nessa corrida, cruzamos a linha de chegada e recebemos a faixa escrita: parabéns, você perdeu mais uma vez!

Ninguém nos contou que a depressão era uma concorrente tão forte e que ela estaria disposta a tudo para levar os troféus para casa. O da vontade de viver. O da sanidade mental. O do desejo de estar com os amigos e familiares próximos. O de ter forças para comer e tomar banho. O de acreditar que ser feliz é possível. 

Também não nos contaram que a arquibancada sempre estaria cheia para nos verem perder, da forma mais humilhante de todas, e a pista de corrida... Bom, para eles, essa sempre estará vazia, afinal, saltar as grades quando nos vissem caídos ao chão nunca pareceu uma opção, não é?

Mas sabe, tudo bem, porque nessa disputa incessante, todos os competidores são iguais a você. Inclusive eu, há um ano e meio. Então, nós não estamos preocupados em sermos os primeiros a chegar, mas que todos cheguem, porque a verdade é que por mais que, na nossa própria mente, insistam em dizer que não merecemos, está na hora de recuperarmos alguns troféus. Quem sabe todos? 

Com amor,

Alice Arnoldi

28 de abr. de 2017

Que seja inverno então, oras


Lembro de olhar para ela e ouvir sobre o futuro. O café da manhã marcado para o feriado. O cinema para o final de semana. A noite só de danças para depois das provas. Mas também lembro de olhar para ela e ouvir sobre o futuro, mas em um tom que esmaecia. 

Lembro de olhar para ela e ouvir sobre o futuro, mas sem enxergá-lo. 

Não porque ele não era feito de bons planos, mas porque não havia mais a vontade pulsante, que roseava as minhas bochechas e tremulava minhas mãos, de realizá-los. 

Ainda que doa admitir, não são mais dias ensolarados e, para a minha surpresa, não pude contemplar as folhas caindo gradativamente antes de sentir o vento gelado solidificando cada fresta que havia em mim. 

Talvez o próximo sol seja desejado para então tudo derreter. 

Mas talvez, sem perceber, o verdadeiro desejo se torna o gelo sólido o suficiente, para que não seja despedaçado na primeira martelada. 

Não porque há gosto pela frieza, mas porque a mudança de estações repentinamente é intensamente desgastante.

Alice Arnoldi

21 de jun. de 2016

Nós precisamos conversar: depressão

                 
                                                                       Fotografia e edição: Alice Arnoldi

Escrever sobre transtornos psicológicos não é uma tarefa fácil, além de ser uma tema extremamente singular e delicado, mas devido as circunstâncias atuais, é preciso. 

É necessário porque as pessoas, ainda, continuam enxergando a depressão, o síndrome do pânico, as crises de ansiedade e outros tantos transtornos psicológicos, como artifícios para alguém chamar atenção, como drama, e até mesmo como "mimimi" - a famosa expressão usada para inviabilizar argumentos de assuntos discutidos. 

Quando ouço casos sobre depressão, e logo após falas como: "ah, mas ela/ele não faz isso só para chamar atenção?", são ouvidas, percebo que a população, em sua maioria, ainda não entendeu a profundidade de um distúrbio psicológico e as suas reais causas. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é, entre todas as doenças médicas, aquela que causa maior incapacitação. Ao contrário do que é pensado por muitos, a presença do quadro depressivo não se dá apenas por uma tristeza profunda durante semanas, é um fator comum também, mas seus sintomas são mais abrangentes do que esse. Algumas pessoas apresentam dores físicas, como a dor no peito acompanha de angústia, advindas do transtorno psicológico; outras relatam a total perda da vontade de viver, pois aquilo que era extremamente legal, engraçado e estimulador, passa a ser um peso, pois a pessoa não se sente com disposição o suficiente para conseguir realizar, até mesmo, suas tarefas rotineiras; meninas já relataram passar dias inteiros, na cama, chorando, pois não conseguiam acreditar que poderiam melhorar e outras, ainda, contam que já chegaram próximas ao suicídio.

Se a depressão pudesse ser resumida em um termo, ele seria "desesperança", pois é exatamente isso que ela faz com uma pessoa. 

Você já se imaginou acorrentado em um lugar, pois não consegue fazer mais nada? Ou talvez você já se imaginou precisando ir, de um lado para o outro, com dores físicas causadas pelo seu psicológico? Você já se imaginou chorando constantemente, pois você não consegue sair com seus amigos, ir à aula, ir ao trabalho, ouvir música, assistir série, ou até mesmo comer, tomar banho e escovar os dentes? Talvez quando você conseguir se imaginar incapacitado dessa maneira, as acusações, de que tudo isso é uma grande teatro em busca de aplausos, carinho e valorização, parem. 

Talvez quando as pessoas esquecerem um pouco, só um pouco, a ideia de que elas sabem tudo sobre todos os assuntos e passarem a estender mais as mãos, ao invés de recolhê-las, o preconceito talvez diminua e eu e todos os outros que já apresentaram ou apresentam transtornos psicológicos possam falar abertamente sobre o assunto, e sejamos mais respeitados quando dissermos não por não nós sentirmos bem emocional e psicologicamente.

Caso você seja uma pessoa que acabou de ser diagnosticada com depressão e não sabe se vale a pena a busca por ajuda, só gostaria que você soubesse que o começo é o momento mais difícil, mas melhora. Você merece sentimentos, sensações e momentos melhores. Tenha em mente, principalmente nos piores momentos, que dias melhores virão e esse monstro se tornará uma pedra bem pequena em suas mãos, que um dia você se sentirá confiante o suficiente para solta-la no chão e seguir em outra direção. Isso é uma promessa!

Alice Arnoldi

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