3 de nov. de 2016

Resiliência

Alice Arnoldi


Depois de amanhã, será o primeiro dia do Enem.


Depois de amanhã, para muitos, será o primeiro suspiro de alívio depois de um longe tempo, enquanto que, para outros, será o de intensa apreensão.

Para mim, depois de amanhã, fará um ano e um mês que a marca contra o câncer desenha uma parte do meu corpo.


Depois de amanhã, fará um ano e um mês que entendi, em meio a cada fisgada no peito e lágrimas doloridas, o que é depressão.



Depois de amanhã, chorarei.



Chorarei por lembrar da vitória.



Não conterei os soluços, porque fui carregada para o hospital, com câimbras por todos os meus músculos e, ainda assim, entrei na faculdade.



Berrarei sem pensar duas vezes, porque fui medicada com 08 cápsulas de cálcio por dia, mais a medicação colocada diretamente à minha veia, já que o meu corpo não absorvia mais os comprimidos e, ainda assim, entrei na faculdade.



A emoção também inundará cada cômodo de casa porque ainda consigo sentir o cheiro do hospital, junto com as sensações de enjoo constante causadas pelos remédios, e, ainda assim, entrei na faculdade.





Se você leu cada linha desse texto e sábado fará vestibular, saiba que ainda que essa fase seja horrível - porque ela é, afinal, a incerteza do resultado corrói a alma -, o ensinamento trazido por ela, não há nenhum outro momento que trará.



Caso você ainda não tenha entendido nada, essas palavras não são sobre a matemática que você finalmente aprendeu (muito legal se isso aconteceu também), mas sobre como, ainda que tentemos negar, somos intensamente humanos. Exaustos, machucados e cobrados, mas resistentes, muito resistentes.



"Não baixe a guarda, a luta não acabou". Vocês vão sobreviver e, mais do que isso, viver.


Alice Arnoldi

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