23 de nov. de 2016

O jardim alheio não é sempre verde

                                                                                                      Alice Arnoldi

Como em um dia imerso na rotina universitária, caminhei em direção ao ponto do segundo ônibus necessário para que eu, finalmente, chegue a faculdade. Balancei a cabeça em cumprimento ao fiscal - que, sempre simpático, faz questão de me informar em quanto tempo o próximo carro sairá -, apoiei a pasta de plástico vermelha sob o tronco de madeira, que, inclusive, é usado por muitos para sentar, e olhei para cima, naquele exato lugar, como nunca havia feito, enquanto arrumava a roupa amassada: puxa a calça de um lado e desce a blusa de outro. 

Instantaneamente, fui surpreendida por flores rosadas, realmente bonitas, plantadas em um vaso preso a janela da casa próxima ao ponto final do ônibus. Enquanto observava tais pétalas rosas, não pensei em fazer nenhuma foto a respeito delas, mas quando vi a quantidade de partes mortas abaixo da flor, não pensei duas vezes em puxar o celular do bolso e fotografa-lá. 

Tira uma, treme. Tira outra, fica escura. Tira a terceira e fica boa. Simultaneamente, o ônibus chegou e, como de costume, sentei em um dos bancos próximos a porta de descida. Antes de apoiar na janela do transporte público para dormir, permaneci mais alguns minutos olhando para a imagem tirada. 

Cheguei a conclusão de que ela não poderia representar melhor a realidade que vivemos: nos foi dito que o sentido da vida não está completo se ela não for uma grande vitrine, com supostas felicidades alheias penduradas pelos manequins e frustrações escondidas nos cantos obscuros do estoque. 

Existimos para que as pétalas rosadas sejam vistas a todo momento, ainda que a parte morta seja a mais humana e o que verdadeiramente sentimos em cada fração do dia.

Como essa flor foi para mim, espero que esse texto seja sempre um lembrete de que as pessoas fingem melhor do que você pensa. Então, saiba que você não é a única pessoa sendo atropelada, constantemente, por situações horríveis, mas que, independente delas, partes bonitas de você continuarão a florescer. 

Viva para pétalas rosadas nascerem, não para os outros, mas para você. 

Alice Arnoldi. 


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