Fui paraquedas ainda que estivesse em queda livre. Fui salva-vidas ainda que estivesse afogada em meio à solidão. Fui solo firme ainda que não conseguisse manter as próprias pernas firmes o suficiente. Fui do outro o tempo todo, ainda que tentasse ser minha.
Arranquei o coração de dentro do peito para ser aconchego do outro em dias nublados. Transbordei em lágrimas que não eram minhas. Colecionei mágoas alheias e ganhei noites mal dormidas com elas.
Pedi um minuto de atenção e, como resposta, recebi alguns dias... De espera.
Aguardei todo o tempo que pude, mas a porta não abriu. Então, juntei tudo o que eu pude: o que restou e o que pensei que restara. Um sorriso maltrapilho para os colegas, um “é apenas cansaço” para a família, algumas fotos para as redes sociais e, o mais importante, as minhas próprias dores.
As pessoas, em meio a risos e rostos espantados, não acreditavam que eu havia escolhido, entre tantas opções, fechar a bolsa com as minhas mágoas dentro dela. A verdade é que as bocas boquiabertas e as faces contorcidas só estavam dessa maneira porque elas carregavam um leque de opções dentro de si e eu... Bom, eu tinha as minhas dores.
Elas não eram boas e nem o melhor para se carregar, mas ainda eram minhas.
Ainda eram o meu ponto de partida. Meu.
Alice Arnoldi
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