28 de ago. de 2016

Transbordou... em amargura

Alice Arnoldi

Ainda que seus olhos fossem doces, algumas de suas palavras amargavam as batidas alternadas do meu peito. Na calada da noite, enquanto ele escolhia as melhores palavras para sussurrar em meu ouvido, os meus pensamentos voavam para os dias chuvosos, em que o meu coração se acidentou: acabou atropelado, pelas incertezas, pelos sentimentos insuficientes. Escorreu... Escorreu decepção para todos os lados. Era tão vermelha quanto sangue, mas não estancava com a mesma facilidade. Suas mãos procuravam as minhas, para que, enfim, eu pudesse sentir a verdade de suas palavras, mas ele esquecia que, ainda que não andasse com uma faca em mãos, cada sílaba dita foi como um punhal cravado em meu maxilar. Desfigurou meu sorriso e seus motivos.

Os chocolates repentinos, de toda sexta-feira, eram escolhidos com cautela, mas quando seus dedos dedilhavam minhas feridas, os remendos não suportavam. Ainda que seus olhos fossem doces, os meus já não eram mais.

Alice Arnoldi

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