Às vezes, gostaria de manter as palavras afastadas de mim. Não, não digo que o problema esteja nos textos profundos de Machado de Assis ou nos poemas de Drummond, mas está em cada sílaba, em cada concordância verbal, em cada frase que me faz mergulhar em águas rasas e acabar com os joelhos ralados.
Ser amante das palavras faz com que você acredite nelas logo após a primeira leitura, porque há a esperança de que com algo importante, como a escolha sinuosa de cada palavra, não haverá brincadeiras e mentiras enrustidas em cada uma delas. Só que a história não é idealizada dessa maneira.
As pessoas brincam com as palavras, e não estou dizendo sobre coloca-las em rima para que o som seja mais charmoso, estou falando sobre expor sentimentos, mas não senti-los, elaborar planos através de bonitas palavras, mas não realiza-los por falta de dedicação, e tantas outras maneiras de maquinar armadilhas para aqueles que acreditam em boas palavras.
Para aqueles que têm suas prateleiras de livros cheias, e reflexões espalhadas por todas as pastas do computador e cadernos do armário, a escrita não é só uma brincadeira. É confiar de novo, após uma discussão com palavras jogadas; é sonhar de novo, ao escrever cada desejo na ponta do lápis; é deixar sentimentos ruins para trás, depois de despeja-los em uma página do Word - ou talvez dez -.
Parece uma relação bonita e até é, mas quando as palavras passam a ser facas bem afiadas, é nessa exata entrelinha que mora o perigo, não só pela dor causada por elas, mas pelas consequências trazidas. Talvez não sejam as palavras que precisam ser afastadas, afinal; mas algumas pessoas.
Alice Arnoldi
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