5 de jul. de 2016

A balela sobre crescer

                                                                          Fotografia e edição: Alice Arnoldi


A vitória da infância é cair, ralar os joelhos e não chorar. Não deixar uma gota de lágrima sequer escorrer. É lavar os cortes com sabão e ao arderem, não alterar o tom de voz quando a mãe perguntar: "está doendo?".

Na adolescência, é se apaixonar pela primeira vez, não ser correspondida, e mesmo assim conseguir desfilar pelos corredores do colégio, enquanto a primeira dor emocional - e que dor, convenhamos -, é sentida. É continuar sorrindo para o garoto que negou você ou porque era gorda demais, ou magra demais, ou porque o sorriso não era alinhado o suficiente e precisou usar aparelho por intensos anos; mas, principalmente, porque os amigos ririam por todos esses motivos e as piadas maliciosas seriam rotineiras. Sendo assim, melhor evitar. 

Ainda na puberdade, é preciso enxergar o corpo mudando dia após dias, mas prosseguir lutando para mantê-lo nos padrões impostos: os seios grandes, assim como a bunda, mas a barriga não, essa precisa ser malhada - geração saúde, não é mesmo? -.

No meio dessas idas e vindas, alguém é visto, dentro do banheiro da escola, colocando o dedo na garganta para que a comida ingerida seja colocada para fora. Então, a porta dos transtornos psicológicos é aberta, mas não pode ir ao psicólogo, muitos menos ao psiquiatra, porque eles são pessoas designadas ao tratamento, única e exclusivamente, de loucos. Ninguém quer ser chamado de louco.

Então o vestibular chega. A depressão e a anorexia conseguiram ser amenizadas com baladas esporádicas, sessões de cinema com boas companhias, e até passaram a ser motivos de risadas durante a ceia de Natal: "ah, lembra do drama que ela fez naquele tempo?". Só que a pressão volta e ainda mais forte, pois não é só acertar o maior número de questões, é saber escolher corretamente a profissão a ser exercida diariamente, é conciliar o vestibular com todas as outras áreas da vida, é lavar o rosto e passar maquiagem para que ninguém veja, nem por um segundo sequer, o cansaço, a tristeza e o medo. 

Viver uma realidade em que é necessário camuflar todos os sentimentos, em pleno século XXI, explica qual é o real problema enfrentado por todos. Não são as terríveis doenças, o desemprego, e a falta de investimento no país - tudo isso também -, mas é não expor a tristeza, acompanhada de um bom choro e a vontade de ficar em casa, porque isso é sinal de fraqueza. É, em todos os momentos, precisar se autoafirmar, pois se as qualidades não forem como roupas bem vestidas e acinturadas, melhor trocar e tentar novamente. É não falar sobre o quanto está cansada, caída, frustrada e dolorida, pois nenhuma dessas atitudes é admirável ao nível de aplausos e gritarias exorbitantes.

Mas as pessoas esquecem... Esquecem que não falar sobre tudo isso, não significa que a realidade não seja essa. 

Talvez, o escancarar da dor fosse capaz de transformar os nós em laços bonitos e frouxos, e não em uma corda, bem apertada, para o suicídio. Seja ele do corpo, ou da alma. 

Alice Arnoldi 

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