3 de dez. de 2016

Eu sinto muito, Ana.

                       Alice Arnoldi

Querida, Ana. 

O ano não foi fácil para você, não é mesmo? Mas você também percebeu, enquanto os dias corriam, que 2016 não estava sendo tranquilo para as outras pessoas também, não é? Então você acabou por colocar um pano leve e sem os remédios certos sob as feridas, para tratar quem você nem sabia como fazer isso, não foi? 

Agora, deixa eu tentar adivinhar: as consequências não foram as melhores. Acertei?

Sabe, Ana, mesmo depois de tanto tempo vivendo a mesma realidade, você ainda não entendeu que, por mais que alguém precise dos seus cuidados, as suas feridas estão infeccionadas e não dá mais para continuar a dizer que elas não existem. 

Elas estão sujando todos os cômodos da casa. Você não consegue ver as gotas de sangue caídas em todas às vezes que você estica a pele, sem elasticidade alguma, para tentar sorrir? Isso não é viver, Ana, é sobreviver. 

Só que a verdade é que você merece mais do que um reflexo de luz: você merece irradia-lá. Mas está difícil se lembrar disso, não está? Afinal, você distribuiu álcool e fósforos a todos, mas esqueceu de guardar, pelo menos um de cada, no bolso da sua calça favorita e surrada. 

Espero que em meio à escuridão que jogaram você, com empurrões de "não posso perdoar você agora" de cá e "as suas qualidades não existem" de lá, de alguma maneira, você consiga entender quem realmente é, independente do que pensam a seu respeito. 

Só não esquece que tentar esconder as feridas não é mais uma opção, Ana. Não dá mais. 

Alice Arnoldi

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