No cotidiano, nós, mulheres, somos sempre a jornalista demitida por N fatores, mas principalmente por falar sobre o abuso psicológico que sofreu; e nunca o cantor perdoado prontamente após a publicação de um vídeo, em seu canal, com um pedido de desculpa.
No cotidiano, nós, mulheres, sabemos que a culpa é entregue em nossas mãos constantemente, porque o tamanho da roupa, o horário em que aconteceu o crime e até mesmo companhia, são motivos legítimos, de acordo com a sociedade, para culpabilizar a vítima.
No cotidiano, nós, mulheres, ouvimos frases repercutidas que diminuem a densidade de nossas lutas, como "mas é só uma brincadeira", "você não tem senso de humor".
No cotidiano, nós, mulheres, sentimos os muros das designações de gênero levantados cada vez mais altos contra nós. As obrigações, por sermos pertencentes ao sexo feminino, são maiores. Não basta estudarmos e trabalharmos, a casa também é obrigação nossa, mesmo que outra pessoa more com você e seja menos ocupada.
No cotidiano, nós, mulheres, somos paralisadas pelo medo.
Medo de dizer não para o cara que saímos pela primeira vez e ele simplesmente não respeitar nossa decisão e forçar algo.
Medo de andar em uma rua, independente do horário.
Medo de ir a uma entrevista de emprego e ser assediada, com alguma proposta inapropriada, pelo suposto futuro chefe.
Medo de não conseguir resistir e acabar afogada.
Medo de não conseguir revidar forte o suficiente e correr.
Medo de carregar o artigo "a".
Medo de ser mulher.
Alice Arnoldi
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