Uma vez disseram para mim que não era possível carregar o mundo nos braços. Teimosa que sou, discordei. Talvez se fosse o meu mundo, eu conseguiria carregar, mas em algum momento dessa pequena, mas intensa trajetória, eu percebi que os meus braços estavam cheios das marcas dos mundos alheios, mundos cheios de problemas, de marcas que eu não fui responsável, mas que hoje, inevitavelmente, eram marcas do meu mundo; mundos cheios de buracos deixados por pessoas que eu nem sequer conheci, e mesmo não conhecendo, corri de um lado para o outro buscando tampar esses buracos que foram criados pelos passos contrários de terceiras pessoas.
E você sabe o que acontece quando você segura algo pesado por tanto tempo, não sabe? Você sabe o que acontece quando você corre de um lado para o outro, não sabe? Você cansa. Você cansa porque não importa o quão forte você seja, seus braços não foram feitos para suportar tudo. Não importa o quanto você já tenha exercitado as suas pernas para fortalece-las, elas foram feitas para correr por um determinado tempo, mas não para sempre.
Talvez seja um pouco frustante você perceber que não é possível sustentar as pontes existentes entre duas mágoas que são carregadas, há bons anos, no coração de uma pessoa que você ama. Pontes criadas para a respiração ser um pouco mais leve e os dias menos escuros. Mas frustante mesmo é perceber que as suas pontes quebraram e as madeiras, que haviam custado tanto para serem construídas, despencaram e caíram em águas profundas. Frustante é perceber que não há pessoas ao seu redor para ajudar você a buscar novas madeiras, e mais uma vez você precisará construir suas pontes sozinha.
E é quando você entende que entre as suas mágoas, você precisará caminhar sozinha e as mãos que você encontrará para segurar serão somente as suas, algumas pontes, que não são suas, precisam ser soltas.
Há momentos da vida que é necessário você caminhar para o lado oposto ao que as pessoas estão indo, não por não haver mais amor, mas porque há tantas feridas expostas e doloridas para serem tratadas em você mesma que não há como cuidar das feridas das outras pessoas. Não dá para estancar um ferida exposta enquanto a sua mão sangra. É perigoso. E mais do que perigoso, é doloroso.
É mergulhar em um mar sem fundo. Ou você sairá como um milagre, ou como aquela que morreu afogada. Não há outras opções.
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